Castigos e recompensas - Quando, como e porquê?
Na sociedade atual, onde muitas das vezes os pais se questionam acerca da pertinência dos castigos e das recompensas face ao comportamento dos seus filhos, será importante pensar sobre os benefícios e as consequências destas formas comportamentais, em termos do desenvolvimento mental, moral e social das nossas crianças. Isto leva-nos à reflexão acerca da utilidade dos castigos e, da mesma forma, das recompensas.
Se pensarmos em termos de pólos opostos, na oposição ao castigo, ou também denominado de recompensa negativa, encontra-se a recompensa positiva.
Estes dois tipos de recompensas servem o intuito principal de permitir à criança situar-se em termos dos seus comportamentos, no sentido daqueles que são aceites e recompensados, dos que podem ser punidos e castigados. Não nos devemos esquecer que os castigos podem e devem ser correctivos e até preventivos, ajudando a criança a saber e a distinguir o bem do mal, o bom do mau, o que vai permitir um melhor desenvolvimento moral e social.
Não obstante, também o bom comportamento exibido pelo infante deve ser recompensado e exaltado, isto no sentido de invertermos uma tendência social e cultural de só apontar os erros e os fracassos, esquecendo-nos de fazer o mesmo com as conquistas e os bons comportamentos que a criança também exibe. Só assim a criança poderá encontrar um equilíbrio dinâmico entre o que deseja e o que pode ou deve realmente fazer, para que o seu comportamento seja o mais adequado àquele que a sociedade em seu redor espera de si.
As dúvidas
São muitas as vezes em que surgem aos pais e educadores dúvidas sobre "Quando aplicar um castigo/recompensa", ou como fazê-lo no sentido do nosso comportamento ser o mais adequado à criança e à situação comportamental, e o "Porquê fazê-lo". Estas questões remetem para quais as vantagens e as desvantagens de agirmos de determinada forma no desenvolvimento das crianças.
Naturalmente que todos estes aspetos se encontram interligados, sendo que não conseguiremos responder ao "Quando", sem pensar no "Como" e no "Porquê". Estas variáveis vão-se alterando consoante a idade do infante que se encontra perante nós, pois no caso de estarmos a lidar com uma criança de 3 anos de idade, que está a viver uma fase activa de exploração dos limites internos e externos e que tem uma compreensão do mundo em seu redor à dimensão do desenvolvimento cognitivo e emocional de acordo com os seus 3 anos de idade, não vamos poder lidar com a situação da mesma maneira do que com uma criança com 7 anos de idade.
Neste último caso, estamos perante alguém onde o primeiro processo de socialização fora da família de onde descende já se encontra a decorrer em pleno, e o desenvolvimento e conhecimento das regras sociais deverá ser profundamente diferente do outro pequeno com 3 anos. Isto implica que os pais e educadores tenham de estar constantemente a adaptar-se a estas mudanças e às exigências que as diversas fases de desenvolvimento vão requerendo.
Algo que à priori poderá parecer difícil, que implique um conhecimento fundamentado sobre o desenvolvimento infantil, rapidamente se desmistifica ao percebermos que se os pais organizarem o seu tempo com a criança demonstrando disponibilidade, afecto e diálogo para com ela, desde os primeiros tempos de vida e ao longo do desenvolvimento, tal vai permitir terem uma noção mais clara de como intervir junto daquela criança em particular.
Desta forma ficam a conhecê-la em maior profundidade e a compreender as suas necessidades, capacidades e fragilidades, o que permite uma melhor e mais adequada acção comportamental dos pais para com os filhos. Isto significa que não existem receitas básicas para utilizar em qualquer situação que implique uma acção comportamental por parte dos pais, mas existem aspectos fundamentais que não devem ser negligenciados quando estamos a lidar com castigos e recompensas, como formas comportamentais de exercer influência sobre o comportamento de outros.
Estes dois métodos de motivação servem como veículos de socialização, funcionando como meios de reforço e formas de recompensa, que podem servir como promotores de um desenvolvimento mais integrado e melhor sustentado da criança no mundo em seu redor. Perante situações ou manifestações comportamentais da criança que exijam uma intervenção por parte dos pais e/ou educadores, é importante nunca esquecer que devemos demonstrar proximidade, no sentido de entender e ajudar a criança naquela situação, mas de sermos simultaneamente capazes de impor regras com autoridade, pois isso transmite à criança um sentimento de segurança e de que os pais sabem o que estão a fazer.
Estabelecer regras
No caso dos castigos, é fundamental que se estabeleçam regras claras e consistentes, assim como as consequências resultantes da quebra desses limites; ao mesmo tempo a criança pode ser uma agente activo no cumprimento do seu castigo, quando lhe é permitido encontrar formas de "negociar" e chegar a um acordo com ela em situações de conflito, incentivando-a assim a desenvolver estratégias de resolução de conflitos, o que vem apoiar a ideia de que os castigos podem, muitas das vezes, funcionar como potenciadores de desenvolvimento, principalmente quando são colocados na altura certa, e são entendidos pela criança como uma maneira de melhorar o seu comportamento, e não como uma punição rígida e dura sem qualquer alternativa visível.
Após o castigo, é muito importante valorizar o bom comportamento e os esforços que a criança demonstrou para melhorar, pois só assim ela irá desenvolver uma consciência comportamental e começará a compreender o que lhe é pedido e permitido em termos sociais. Os mesmos princípios se aplicam às recompensas, que devem funcionar como reguladores do bom comportamento da criança. Quando esta exibe comportamentos adequados às situações de forma espontânea, deve igualmente ser relembrada do que foi capaz e ser recompensada por isso, sendo que as recompensas não têm de ser somente materiais, mas também emocionais.
Quero com isto dizer que é importante valorizar verbalmente a conduta da criança, dizendo-lhe o quanto ela fez bem e como isso é bom para ela e para os outros em seu redor. Naturalmente que tanto os castigos como as recompensas podem apresentar-se de uma forma mais concreta e material, como por exemplo privar a criança de algo que ela goste, ou presenteá-la face ao seu bom comportamento, mas esta maneira deve sempre fazer-se acompanhar por uma compreensão emocional do que aconteceu, como sucedeu e por que é que se agiu de determinada maneira.
Isto porque só dessa forma é que a criança vai conseguindo incorporar essas realidades e, de modo mais natural, vai corrigindo os seus comportamentos no sentido de ser aceite e integrada no mundo dos adultos e no mundo social em que se movimenta, atingindo assim aquilo que ela mais procura que é ser aceite na esfera familiar e social, mas também ser compreendida e amada de acordo com as suas particularidades e a sua individualidade.
Revisão científica: Maria João Varandas dos Santos, Psicóloga Clínica – Clínica da Educação
fonte: http://familia.sapo.pt