O autismo é um transtorno neuropsiquiátrico que afecta uma em cada mil crianças em idade escolar em Portugal e que não permite que as mesmas tenham uma vida normal. A ausência da fala, a dificuldade em relacionarem-se com os outros ou o comportamento repetitivo e inadequado são alguns dos seus traços característicos. O trabalho dos pais no tratamento é essencial para que a criança possa viver da melhor maneira possível.
O que é o autismo?
O autismo é um transtorno neuropsiquiátrico, mais comum nos rapazes que nas raparigas. As características do autismo aparecem, geralmente, durante os primeiros três anos da criança e continuam ao longo de toda a vida.
O autismo pode ser mais ou menos severo. Os casos mais graves caracterizam-se por uma completa ausência da fala, por comportamentos extremamente repetitivos, não usuais, auto-prejudiciais e agressivos. As formas mais leves de autismo (tipicamente Síndrome de Asperger ou autismo de alto funcionamento) poder ser quase imperceptíveis e podem confundir-se com timidez, falta de atenção e excentricidade.
Vários estudos estabelecem que em todo o mundo 5 em cada 10 mil pessoas apresentam um quadro de “autismo clássico” e, se tomarmos em consideração todo o espectro do síndrome, este afecta aproximadamente uma em cada 700 ou 1000 pessoas. Em relação ao sexo, afecta 4 rapazes por cada rapariga.
Perfil de uma criança autista
As crianças autistas apresentam uma série de traços característicos que permitem detectar rapidamente o seu transtorno.
- Alteração do desenvolvimento da interacção social e recíproca:em algumas pessoas dá-se um isolamento social significativo; outras pessoas mostram-se passivas na sua interacção social, apresentando um interesse escasso e furtivo para com os outros. Algumas pessoas podem ser muito activas na hora de estabelecer interacções sociais, mas fazendo-o de maneira estranha, unilateral e intrusa; sem considerar plenamente as reacções dos outros. Todas têm em comum uma capacidade limitada de empatia, mas são capazes, à sua maneira, de mostrar os seus afectos.
- Alteração da comunicação verbal e não-verbal:algumas pessoas não desenvolvem nenhum tipo de linguagem, outras mostram uma fluidez enganosa. Todas carecem da habilidade de levar até ao fim uma conversa. Tanto a forma como o conteúdo das suas competências linguísticas são peculiares e podem incluir a repetição continua de palavras e/ou frases, a inversão pronominal e a invenção de palavras. As reacções emocionais aos requerimentos verbais e não-verbais dos outros são inadequadas – evitam o contacto visual, incapacidade para entender as expressões faciais, as posturas corporais ou os gestos.
- Reportório restringido de interesse se comportamentos:a actividade imaginativa vê-se afectada. A grande maioria das pessoas incluídas no espectro do autismo falam no desenvolvimento do jogo normal de simulação “brincamos ao que eu sou … médico, bombeiro, etc.”. Esta limitada imaginação obstaculiza e limita a capacidade para perceber as emoções e as intenções dos outros. Em alguns casos a actividade imaginativa é excessiva.
Os padrões de conduta são, frequentemente, ritualistas e repetitivos. Podem apegar-se a objectos inusuais ou estranhos. Frequentemente apresentam uma grande resistência a alterações e uma perseverança na imutabilidade; alterações insignificantes no seu meio podem provocar um profundo mal-estar.
Para além disso, em muitos casos dá-se uma sensibilidade inusual perante estímulos sensoriais – tácteis, auditivos e visuais. Outros traços comuns associados e não específicos incluem: ansiedade, transtornos do sono e da alimentação, transtornos gastrointestinais e condutas agressivas.
Para além das variações no comportamento, dá-se uma enorme variedade ao nível do funcionamento mental (que vai desde uma inteligência normal ou até superior, até uma profunda incapacidade intelectual). Há que destacar, no entanto, que em três quartos dos casos identificados de transtornos do espectro autista ocorre uma incapacidade intelectual.
Quais são as causas do autismo?
As causas deste transtorno não estão nada claras. Desde que em 1943 o autismo foi classificado medicamente pelo Dr. Leo Kanner do Hospital John Hopkins, muitas são as teorias que circularam em relação ao assunto. As principais são:
- Deficiências e anormalidade cognitivas. A evidência cientifica sugere que, na maioria dos casos, o autismo é uma desordem hereditária. De facto, é uma das desordens neurológicas com maior influência genética que existe. É tão hereditária como a personalidade ou o quociente intelectual.
Os estudos de pessoas autistas encontraram diferenças em algumas regiões do cérebro, incluindo o cerebelo, a amígdala, o hipocampo, o septo e os corpos mamilares. Em particular, a amígdala e o hipocampo parecem estar densamente povoados de neurónios, os quais são mais pequenos que o normal e têm fibras nervosas subdesenvolvidas. Estas últimas podem interferir com os sinais nervosos. Também se descobriu que o cérebro de um autista é maior e mais pesado que o cérebro de uma pessoa sem este problema. Estas diferenças sugerem que o autismo resulta de um desenvolvimento atípico do cérebro durante o desenvolvimento fetal. No entanto, esta explicação não serve para todos os casos, já que nem sempre surgem estas características diferenciadoras no cérebro.
- Factores ambientais: As relações da criança autista e o seu ambiente familiar e meio social. Neste aspecto, o autismo poderia ser favorecido por certas condições como a ausência de demonstração de carinho enquanto a criança é pequena. A intoxicação por mercúrio, complicações durante a gravidez e do parto ou o stress.
- Certos processos bioquímicos básicos. Encontrou-se um excesso de serotonina nas plaquetas dos autistas.
Também em recentes estudos do Consórcio do Autismo de Boston, no qual participaram, entre outros, o Hospital geral de Massachussets, o Hospital Infantil de Boston e a empresa de CODE Genetics, identificou-se uma anomalia cromossómica que parece aumentar a susceptibilidade ao autismo. Segundo os cientistas, um segmento do cromossoma 16 encontra-se desaparecido ou duplicado em cerca de um por cento dos indivíduos com autismo ou com doenças associadas, uma frequência que é comparável à dos outros síndromes genéticos associados a este transtorno.
Uma hipótese descartada
Outra teoria mais recente apontava para a possibilidade de que um composto de algumas vacinas infantis, o timerosal, pudesse ser o responsável desta alteração neurológica. O timerosal é um conservante derivado do mercúrio que se empregou frequentemente na fabricação de vacinas e de outros produtos farmacêuticos a partir do seu descobrimento nos anos trinta.
No entanto, os últimos estudos descartaram esta possibilidade, já que o número de casos de autismo na Califórnia continuou a aumentar consideravelmente apesar deste composto ter sido eliminado quase por completo a partir do ano de 2001. Uma equipa dirigida por Robert Schechter, do departamento californiano de saúde pública, estudou a prevalência de transtornos do espectro autista entre os anos de 1995 e 2007 em crianças entre os 3 e os 12 anos.
Tendo em conta que o timerosal foi eliminado na maior parte das vacinas em 2001, os autores do estudo explicam que a taxa de crianças com transtornos do espectro autista deveria ter-se reduzido drasticamente nesse período se essa fosse realmente a causa. No entanto, os dados demonstram que não foi assim. Pelo contrário, em 10 anos este número passou de 0,3 crianças por casa 1000 nascimentos em 1993 para 1,3 por cada 1000 nascimentos em 2003.
O autismo tem cura?
Ao ser desconhecida a causa exacta deste transtorno neuropsiquico, ainda não se encontrou um tratamento eficaz que o elimine por completo. O único tratamento que se pode seguir, e cujo êxito depende do nível de autismo do paciente, é a educação especial, a dedicação individualizada e permanente por parte da escola e da família.
Pode-se recorrer à psicoterapia embora os resultados sejam escassos devido a ao défice cognitivo e de linguagem dificultarem a terapia. O tratamento preferido está baseado em análises comportamentais aplicadas.
O que podem fazer os pais?
O trabalho dos pais e de toda a família é essencial. O seu primeiro papel será aceitar a notícia de que o seu filho é autista e informarem-se sobre o tema ou mais possível. Os psicólogos recomendam que os pais contactem Associações de Autistas para falarem com outros pais que já passaram ou estão a passar pelo mesmo.
Em segundo lugar devem dar todo o seu apoio e amor à criança. Os pais devem incentivar o seu ensinar o seu filho autista a desenvolver as suas destrezas para que se sinta bem consigo mesmo. Para além disso, é muito importante ir a um psiquiatra que, para além de tratar a criança, pode ajudar a família a resolver o stress. Por exemplo, pode ajudar os irmãos que se sentem ignorados pelo cuidado que uma criança autista requer. O psiquiatra pode ajudar os pais a resolverem os problemas emocionais que surgem como resultado de viverem com uma criança autista e orientá-los de maneira a que possam criar um ambiente favorável para o desenvolvimento e ensinamento de todos os seus filhos.