Diagnóstico precoce e coragem para lidar com o assunto são as chaves para garantir à criança com problema auditivo uma infância saudável e feliz
Aceitar que seu filho possa ter algum tipo de problema auditivo não é nada fácil, mas o diagnóstico precoce faz toda a diferença para proporcionar a criança uma vida normal e feliz. E como saber se a saúde auditiva do seu filho vai bem? Existem sinais que tornam possível perceber se uma criança possui ou não deficiência auditiva, explica a fonoaudióloga Tatiana Ottoni. Identificado qualquer sintoma, é essencial procurar um otorrinolaringologista para fazer o correto diagnóstico.
Segundo ela, bebés com problemas auditivos normalmente não reagem a estímulos sonoros. Como não se assustar quando uma porta bater. Também são bebés que não balbuciam. Além disso, tendem a chorar muito porque não têm a sensação da mãe por perto a não ser que a estejam vendo. “Um exemplo disso é que se a mãe estiver lavando louça na pia da cozinha, longe do carrinho, o bebé tenderá a chorar porque tem a sensação de solidão”, explica. Em crianças maiores, a fonoaudióloga alerta que é comum a troca na fala e uma demora excessiva no desenvolvimento da linguagem. “Os pais devem ficar muito atentos e ao menor sinal de problema procurar um otorrinolaringologista para fazer a audiometria, teste capaz de detectar se a criança tem algum problema auditivo.” Recentemente, uma lei federal tornou obrigatório em maternidades de todo o país, o teste da orelhinha, exame capaz de detectar em bebés recém-nascidos a existência de problemas auditivos.
Ao passo que o apoio dos pais e da família é muito importante para o rápido diagnóstico e tratamento, não procurar ajuda pode causar prejuízos não só no desenvolvimento linguístico, como intelectual e emocional da criança. “São crianças que tendem a ficar isoladas e ter mais dificuldade para se relacionar, complicações que podem se estender para a vida toda. Por isso, é importante se informar”, explica a fonoaudióloga.
Estima-se que a cada mil crianças nascidas três apresentam deficiência auditiva. É comum pensar que os exames diagnósticos devem ser feitos apenas em crianças que apresentam algum factor de risco relacionado a esta deficiência, porém, sabe-se que 50% dos casos não apresentam pré-disposição para problemas auditivos. No Brasil, a maioria dos casos encontrados tem origem não-genética, sendo causados por factores pré-natais (rubéola da mãe durante a gestação), peri-natais (falta de oxigénio durante o parto) ou pós-natais (caxumba, sarampo, meningite, otites médias). A maior parte destes problemas pode ser evitada por meio de vacinas e tratamentos medicamentosos.
É importante tomar cuidado também na amamentação de bebés. Pouca gente sabe, mas dar mamadeira para o bebé deitado pode fazer mal, já que na orelha média, há um canal chamado tuba auditiva, que faz a comunicação do ouvido com a garganta e é responsável por regular a pressão nos ouvidos. Os bebés possuem a tuba auditiva mais horizontalizada e, portanto, se dermos a mamadeira com ele deitado, o leite poderá ir para o ouvido e causar dores ou infecções no ouvido gerando outras complicações.
Qualquer recém-nascido pode apresentar um problema auditivo ou adquiri-lo nos primeiros anos de vida, mesmo que não haja caso de surdez na família ou factores de risco aparentes, como no caso de mães que tiveram rubéola durante a gravidez.
Quando a deficiência é diagnosticada precocemente, dificuldades na comunicação oral e até o risco da criança ficar muda podem ser evitados. Um dos principais problemas no diagnóstico tardio é o desenvolvimento da fala. Isso porque a criança aprende a falar ouvindo, portanto, a fala é prejudicada devido à falta de estímulo pela audição.
De acordo com a fonoaudióloga Marta Maria Ribas, o ideal é que todos os bebés sejam submetidos ao teste de alta emissão, o chamado “teste da orelhinha”, responsável pela detecção de algum prejuízo na audição dos pequenos. “O exame é extremamente importante, principalmente para os bebés que permanecem nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) após o nascimento, devido ao barulho constante do ambiente e dos equipamentos existentes no local”.
Segundo ela, outro factor que merece atenção é a otite, infecção no ouvido desenvolvida pelo acúmulo de líquido no sistema auditivo. “Ingerir o leite da mamadeira deitado pode desviar o conteúdo e desenvolver o problema. Se as inflamações acontecerem repetidamente, podem ser prejudiciais para o sistema auditivo das crianças”, explica a fonoaudióloga.
Traumas ou exposição constante à poluição sonora também podem prejudicar o sistema auditivo dos pequenos. Quedas graves e traumas ocasionados por ruídos muito fortes, como as bombinhas de festas, por exemplo, também podem levar a perdas auditivas parciais ou totais.
Há ainda a questão da acomodação auditiva: pesquisas revelam que há possibilidade de uma acomodação auditiva em decorrência da exposição contínua a sons excessivamente altos. De acordo com a audiologista Sabrina Lechugo Siqueira, “isso não representa uma perda imediata, mas pode levar a futuros problemas auditivos. É o caso da utilização de walkman em alto volume”. Vale lembrar que os danos só ocorrem quando a exposição é constante e por um longo período de tempo.