Etapas do desenvolvimento da linguagem

Etapas do desenvolvimento da linguagem


A linguagem inicia-se na barriga da mãe


O ser humano inicia o seu processo de comunicação muito cedo, antes mesmo de nascer, quando ainda está no ventre materno. Os movimentos que faz durante a gestação são respostas aos estímulos sonoros externos e são muito importantes para que a comunicação entre mãe e bebé se faça adequada desde esse período.


Sobre este aspecto Costa e Santos (2003) dizem:

“ (…) as crianças desde muito cedo, ainda na barriga da mãe, revelam capacidade para trabalhar sons, os quais vão ser parte integrante da língua que virão a dominar. (…) Assim, podem indicar que as crianças estão a preparar-se para falar, porque já estão em contacto com os sons da língua e já conseguem fazer algumas tarefas que requerem um grau de percepção relativamente sofisticado. É talvez ainda cedo para dizermos que já estão a falar, mas não é cedo para dizer que o processo de aquisição da linguagem já começou”.

O choro e o balbúcio


A etapa pré-linguístca do desenvolvimento da linguagem compreende o período do nascimento até aos nove ou dez meses da de idade da criança. O choro é primeira e principal ferramenta de comunicação do bebé nesta fase de vida, já que é através dele que terá as suas necessidades atendidas pelos pais, seja o frio, a fome, a dor, etc. Quando o bebé reconhecem que os pais suprem às suas necessidades respondendo ao seu choro, ele percebe que outra pessoas podem escutá-lo. Com o passar do tempo, mais ou menos a partir da 6ª semana de vida, o bebé adquire outras formas de comunicação, como o sorriso, o olhar e o tacto.
A partir do segundo mês, o choro adquire características sonoras que variam consoante a necessidade do bebé, estando a sua tonalidade relacionada com o seu estado de bem-estar ou mal-estar. Já no início do terceiro mês de vida, o bebé é capaz de produzir sons guturais e vocálicos e de responder aos estímulos sonoros de outras pessoas através do sorriso ou de um murmúrio. É nesta fase que surge o balbucio, que é definido pela emissão de sons mediante o redobramento de sílabas, como "ma ma", "ta ta", etc. “Esta fase é fascinante, uma vez que parece ser o primeiro passo para a linguagem explícita”(a). Embora o balbucio permaneça até o oitavo ou nono mês de vida, é no quinto ou sexto mês que ele progride consideravelmente e inicia o processo de imitação de sons. Assim, o bebé pode tanto imitar sons produzidos por ele mesmo ou por outras pessoas, seja adulto ou criança. Entre o sétimo e oitavo mês, é importante que os nomes dos objectos oferecidos à criança sejam pronunciados para que possa aprimorar as suas capacidades linguísticas e comunicativas. Nesta idade, o bebé apresenta vocalizações espontâneas e até sílabas e ditongos, que são as principais aproximações para a emissão das primeiras palavras. Aos nove ou 10 meses de vida, a criança pode dizer algumas palavras curtas, porém a maioria delas são apenas a repetição do que dizem os adultos. A criança apresenta um forte interesse por imitar gestos e sons para estabelecer a comunicação, estando assim propensa a aprender a linguagem mais rapidamente, necessitando para isso o reforço e o estímulo dos pais a cada progresso adquirido.

Nesta fase, é possível sintetizar os conhecimentos exibidos pela criança da seguinte forma(b):
- A nível da fonologia, as crianças já exibem conhecimentos sobre estrutura da sílaba, o que as leva a seleccionar apenas alguns tipos de sequências de sons (vogais isoladas ou sequências consoante-vogal), em vez de produzirem sequências perfeitamente arbitrárias.
- Também a este nível, conforme confirmado pelos testes realizados em França (…), as crianças já são selectivas relativamente às vogais que produzem e ao ritmo e entoação dos seus balbucios.
- No que diz respeito à intenção comunicativa, as crianças revelam a capacidade de produzir alguns sons associando-os a uma pessoa ou objecto específicos e podem usar diferentes tipos de entoação para expressar diferentes sentimentos.
- Finalmente, no que diz respeito à compreensão, as crianças mostram ser capazes de reconhecer algumas palavras, discriminando-as de outras e estabelecendo algumas relações entre som e significado.

As primeiras palavras


A uma dada altura, geralmente por volta dos doze meses, o bebé finalmente começa a utilizar as primeiras palavras. Este momento é assinalado com grande alegria pela família.(c)
O início da Etapa Linguística caracteriza-se pela emissão das primeiras palavras, que ainda não têm o formato das palavras de um adulto. Dentro desta etapa, a criança desenvolve uma série de capacidades de comunicação, de acordo com a idade.
Entre os 9º e 18º meses de vida, a criança reconhece e responde quando chamam pelo seu nome, sabe o significado de algumas palavras, como "sim" e "não", e utiliza a linguagem para estabelecer e manter o contacto com o meio familiar. É capaz de responder aos sons com gestos, como dizer "tchau" com as mãos. Surgem também as primeiras palavras com sentido, como "mamã", "papá", e compreende ordens simples, como dar e receber. É nesta fase que se inicia a emissão de palavras-frase. Assim, a criança pode solicitar algo através de apenas uma palavra, embora, em crianças com um nível de estimulação e desenvolvimento maior, possa-se observar frases de duas palavras, havendo em alguns casos até mesmo o emprego de adjectivos.
Dos 18 aos 24 meses de idade, há um enriquecimento da linguagem e a criança passa a explorar melhor o ambiente em que vive, conhece novos nomes e as partes do corpo. A maior parte das crianças possui um repertório linguístico com mais de 50 palavras. Assim, a aquisição de palavras novas passa a ser quase que diária, utilizando nas suas expressões uma selecção de palavras pertencentes à classe de substantivos, por estes serem as palavras com maior força denotativa e alguns advérbios e adjectivos como “lindo”, “mais” ou “não”. Nesta fase nem todos os sons fonológicos estão disponíveis. As crianças conseguem produzir as oclusivas (p, t, k, b, d, g), mas ainda não são capazes de produzir as fricativas (f, s, ch, v, z, j), usando os sons que mais se opõem em termos de sonoridade. Deste modo, serão capazes de dizer pa para pato, mas em chave substituirão o som fricativo cha pelo som oclusivo ta, por este ser mais próximo.
Nesta fase podemos referir os seguintes aspectos como fundamentais(d):
- A criança começa a produzir as primeiras palavras identificáveis pela forma e pelo significado como correspondentes a palavras existentes na língua que está a adquirir.
- A forma das palavras é ainda uma aproximação, estando condicionada pelos sons que a criança já adquiriu, de acordo com a ordem de aquisição das várias consoantes e vogais, e por restrições relativas ao formato de sílabas disponíveis nesta fase.
- As palavras seleccionadas para as primeiras produções são simples e reflectem um nível básico de organização do léxico, podendo existir casos de hipergeneralização dos significados (como, por exemplo, qualquer animal é chamado de “cão”).
- As “frases” produzidas pelas crianças são tipicamente constituídas por uma palavra só, sendo difícil detectar conhecimento morfológico e sintáctico.
Explosão do vocabulário



Dos dois aos três anos de idade, há um forte aumento do vocabulário. A este fenómeno chama-se “explosão do vocabulário”. A maior parte das palavras que a criança produz nesta fase pertence à classe dos nomes. Produzem também verbos, alguns adjectivos e advérbios. Nas suas frases, a criança já é capaz de empregar verbos auxiliares como "ter" e "ser", utiliza preposições e apresenta uma fala bem compreensível, inclusive para pessoas fora de seu meio familiar. Nesse período a criança é capaz de dizer seu nome e idade, expressa palavras de duas ou mais sílabas, reconhece os objectos conforme sua utilidade, e assim possui um vocabulário mais enriquecido.


Grandes frases e muitos porquês



Por volta dos três anos, dá-se mais um pulo linguístico. De repente, parece que a criança é um falante competente.(e)
Nesta fase, as frases produzidas deixam de ser curtas e surgem as várias categorias puramente gramaticais. Conforme descrito por Costa e Santos (2003), nesta fase aparecem frases com conjunções (“Diz que sim”), frases com artigos (“É a bola”), frases com preposições (“Gosto de ti”) e frases com alguns pronomes átonos (“Isso não diz-se”). Introduzem orações relativas e algumas completivas. Passam a usar o é que nas interrogativas. É curioso o facto de, nesta fase, a criança generalizar muitas regras. Assim, generalizam a marcação de primeira pessoa do singular do presente a todos os tempos verbais (eu queria > eu querio; eu caibo > eu cabo) e generalizam na formação dos nomes as marcas de género (cavalo/cavala) e as marcas de número (tubarão/tubarãos). Nesta fase, de acordo com a descrição de Freitas (1997), o sistema de sons ainda não está completamente estabilizado e algumas consoantes fricativas podem estar ainda por dominar, e assim se percebe nas crianças que falam “achim” até aos cinco ou seis anos.
È também esta fase conhecida como a “fase dos porquês”, pois é nela que a criança sente necessidade de obter explicações sobre determinados factores que a rodeiam. Costa e Santos (2003) referem que: O facto de as crianças seleccionarem a interrogativa “porquê” mostra, uma vez mais, como estão atentas ao que é dito à sua volta. Elas já sabem que esta é a palavra interrogativa que pode garantir a manutenção do diálogo durante mais tempo.
“tagarelas” mas com muito por aprender



No período dos quatro aos cinco anos de idade, a criança apresenta expressões referentes ao comportamento social apreendido, como cumprimentos, pedir favores e dizer obrigado. A linguagem já não é mais apenas uma ferramenta de comunicação imediata, e a criança pode representar mentalmente os objectos e situações, o que facilita tanto o desenvolvimento da linguagem como o desenvolvimento da capacidade intelectual. Nessa etapa, a criança poderá falar correctamente todos os fonemas da nossa língua, embora ainda não domine completamente as regras de regularização dos verbos.
Entre os seis e sete anos de idade, a criança apresenta uma adequada maturidade neuropsicológica para a aprendizagem e uma linguagem cada vez mais abstracta, demonstrando um maior nível de compreensão de um contexto, e podendo relacioná-lo a outros. Desta forma, a criança pode relatar o que aconteceu na escola, aprender canções infantis e compreender histórias. Neste período a criança faz se capaz de perceber as críticas e comentários de outros a respeito da sua pessoa. Assim, a criança desenvolve uma consciência de si próprio, e consequentemente um auto-conceito e auto-imagem que influenciará no desenvolvimento de sua personalidade e adaptação social.
Após os sete anos de idade, a criança já adquiriu uma linguagem completa, com a articulação, a compreensão e a entoação apresentadas de forma adequada. No entanto, considera-se que a aquisição da linguagem só se estabiliza na adolescência, uma vez que é apenas nesta fase que alguns aspectos mais complexos da gramática são dominados.
Na adolescência, o jovem domina a estrutura lógica, utiliza frases complicadas e completivas. A sua expressão escrita demonstra uma grande preocupação na busca da frase precisa e uma certa ânsia de originalidade. As orações complicam-se e nota-se nele uma grande influência dos modelos literários. Na linguagem oral emprega as palavras da moda.(f)
É importante salientar que as etapas do desenvolvimento de acordo com a idade podem variar de criança para criança, já que cada um possui o seu próprio tempo e aprende de acordo com suas capacidades. A estimulação da linguagem e consequentemente das capacidades intelectual e social da criança pode ser feita pelos pais através de jogos e brincadeiras, que são actividades em que a criança se mostra mais colaboradora e que se sente bem, embora seja importante que qualquer actividade não seja interrompida para estimular a linguagem da criança.


Notas
(a) Cf. Santos e Costa (2003)
(b) Cf. Santos e Costa (2003). Paráfrase das observações de Mata e Pereira (1993)
(c) Costa e Santos, p.90 (2003)
(d) Cf. Costa e Santos (2003)
(e) Costa e Santos, p.113 (2003)
(f) O livro do casal, Tomo VI. Psicologia Infantil e Juvenil (1982)


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