Há muito tempo aprendi que as palavras são mais poderosas que qualquer droga, arma, artimanha ou vício conhecido pelo ser humano. O poder da palavra é maior que o das bombas atómicas ou das armas nucleares, pois compete à PALAVRA a decisão de emprego ou não dessas armas.
Dessa afirmativa inicial diz-se que a real força do mundo está nas palavras, sejam as ditas, sejam as escritas. Mas as palavras escritas têm mais força, porque é algo que fica marcado, enquanto aquilo que é dito pode desfazer-se no tempo, desaparecer na vontade ou no desejo das pessoas. Os escritos são perenes, fazem história, constroem a vida. E, nesta vida, os fatos passam, os temas esquecem-se, mudam-se, mas as palavras ficam. São elas que vão significar tudo na vida. Por isso é preciso ter atenção com as palavras, elas são como espelho a refletir a imagem das pessoas que as utilizam.
Aristóteles definiu o homem como zôon lógon échon. A tradução desta expressão está mais para “vivente dotado de palavra” do que “animal dotado de razão” ou “animal racional”. Se há uma tradução que realmente engana, no pior sentido da palavra, é justamente essa de traduzir logos por ratio. E a transformação de zôon, vivente, em animal. O ser humano é um vivente com palavra. E isto não significa que tenha a palavra ou a linguagem como coisa, ou faculdade, ou uma ferramenta, mas que o ser humano é palavra e, enquanto palavra o seu modo de se dar é na palavra e como palavra.
Percebe-se, então, que toda palavra tem poder, toda palavra tem saber. Cada pessoa tem responsabilidade por aquilo que diz. A palavra tem força, é mágica, encantada. Pode levar ao céu ou descer ao inferno. E, à maneira dos costumes, as palavras podem cair em desuso, empreender viagens, falar muitos idiomas. São como perfumes, evocam sonhos, poesia, magia, sedução.
É pelo poder das palavras, pelo significado e controle delas, pela imposição de algumas e pelo silenciamento ou desativação de tantas outras, que as pessoas lutam na vida, tropeçam, vencem. Nessa luta se joga algo mais do que simplesmente palavras. Vejam-se a palavra experiência. Em espanhol, significa “o que nos passa”; em português, “o que nos acontece”; em francês a experiência seria “ce que nous arrive”; em italiano, “quello che nos succede” ou “quello che nos accade”; em inglês, “that what is happening to us”; em alemão, “was mir passiert”. Então, a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.
Por isso tudo é fundamental, ao ser humano, ter cuidado, atenção, respeito às palavras, pois com elas exercitamos a comunicação, dizemos quem somos, o que queremos na vida. Essa comunicação dirige nossos pensamentos e molda nossas ações e, de alguma forma, ela nos ajuda a criar a nossa realidade, evidenciando nossos pontos fortes ou potencializando nossas limitações. A palavra induz à ideia, tanto quanto a ideia induz à palavra.
Para concluir a reflexão, pense o leitor nas palavras que usa e analise quais palavras mais saem da sua boca. Essas palavras são de amor, irritação, amizade, compreensão, respeito, elogio, condenação, crítica? Depois, responda como essas palavras são transmitidas, se com humildade ou arrogância. Ainda, tente descobrir quais palavras são importantes no convívio diário da vida. Por fim, exercite algumas palavras mágicas. Seis palavras importantes: “Reconheço que o erro foi meu”. Cinco palavras importantes: “Seu trabalho é bom”. Quatro palavras importantes: “Qual a sua opinião?” Três palavras importantes: “Faça um favor”. Duas palavras importantes: “Muito obrigada”. As palavras nunca são somente palavras. Elas traduzem aquilo que cada pessoa é e o que tem. As palavras traduzem a vida.
Luísa Galvão Lessa