Teorias de aprendizagem
As formas de aprendizagem infantil são complexas
Foi só no século xx que se começou a prestar seriamente atenção ao desenvolvimento da criança durante as primeiras fases da vida. Várias teorias emergiram, cada uma delas chamando a atenção para aspetos ligeiramente diferentes do processo. As teorias mais conhecidas são as de Jean Piaget, Erik Erikson e John Watson.
As teorias de Piaget
Jean Piaget foi um psicólogo suíço que desenvolveu uma teoria da inteligência, infantil que considerava que cada fase da infância era dominada por formas particulares de pensamento e ação. Chamou à fase pré-escolar dos 2 aos 6 anos "estádio pré-operatório", centrado na aquisição da linguagem. Naturalmente, a linguagem implica o pensamento simbólico, no qual uma coisa representa a outra, A palavra árvore não parece uma árvore de verdade, mas significa árvore.
Ligado a isso está o desenvolvimento da representação simbólica, através da qual a criança finge que uma almofada é um cavalo que está a montar, ou que uma caixa de cartão é um carro. A representação de papéis também se desenvolve nesta fase, com a criança representando o papel de outra pessoa - é o maquinista do comboio e o pai ou a mãe é um dos passageiros.
Enquanto estes padrões de comportamento se tornam ativos durante a fase pré-escolar, há outros que não. Piaget acentua, por exemplo, que as crianças neste período são todas egocêntricas e quase incapazes de ver o ponto de vista de outrem. Num teste famoso, mostrou uma figura com uma montanha a um grupo de crianças e pediu-lhes para escolherem uma imagem de várias perspetivas dessa montanha.
As crianças tinham de escolher uma imagem que tivesse sido vista por outra pessoa, de uma outra perspetiva. Para surpresa do investigador, escolheram sempre a sua própria perspetiva da montanha, revelando que, na opinião delas, essa era a única que importava.
Mais tarde, Piaget foi criticado por não ter baseado as suas conclusões numa amostra mais vasta de crianças. Uma investigação posterior revelou que, por volta dos 4 ou 5 anos, as crianças começam a pensar mais nas outras pessoas e muitas vezes são menos egocêntricas do que sugerira Piaget. Os principais estádios de desenvolvimento da sua teoria podem estar corretos, mas não devem ser aplicados com rigidez.
Há sempre algumas crianças que desenvolvem mais tarde - e outras que começam mais cedo. A riqueza do ambiente em que crescem tem implicações profundas, tal como foi reconhecido por Lev Vygotsky, que apresentou uma alternativa à teoria de Piaget, defendendo que as crianças se desenvolvem através da interação social.
As teorias de Erikson
Erik Erikson foi um psicanalista alemão que rejeitou as ideias de Sigmund Freud sobre a sexualidade infantil e formulou uma teoria sobre os estádios de desenvolvimentos psicossocial. Considerou que o período dos 2 aos 5 anos compreendia dois estádios principais. O primeiro é o estádio psicossocial 2 (2 e 3 anos), em que a criança aprende a controlar o corpo. Quando se movimenta, os membros ainda não fazem exatamente o que ela quer, causando frustração. Os movimentos da bexiga e do ânus ainda não estão totalmente controlados. Quanto mais a criança controla os movimentos e as ações, mais independente se sente. Luta para abandonar a fase de bebé e de dependência total.
O estádio psicossocial 3 (dos 3 aos 5 anos) é considerado um tempo de exploração, quando a criança afirma o controlo que alcançou. Muitas vezes toma a iniciativa em atividades sociais e em jogos e, quando tem êxito, tem um grande sentido de sucesso pessoal. Quando vai para a escola, a criança já se tornou um líder ou um seguidor.
As teorias de Watson
John Watson era um psicólogo americano que acreditava no treino implacável das crianças. Só se interessava pelo comportamento exterior e não pelo seu bem-estar, pensamentos ou sentimentos. Via em cada criança a possibilidade de experiências que envolviam punições e recompensas, e afirmava que conseguia treinar qualquer criança para ser qualquer tipo de adulto. Até fez algumas experiências, como criar numa criança o medo de ratazanas brancas, fazendo sons aterrorizadoras sempre que ela via uma ratazana. Com isto demonstrou que a criança acabara também por desenvolver o medo de outros objetos pequenos e peludos.
No esquema de comportamento de Watson, as crianças deviam ser tratadas como um pequeno adulto, subordinadas e moldadas de acordo com as necessidades dos adultos. Se uma criança estivesse a chorar, Watson recomendava que fosse deixada a chorar até parar, para que aprendesse que não tinha o poder de influenciar os pais ou qualquer outra pessoa. Os ensinamentos de Watson, que foram aceites com seriedade nas décadas de 1920 e 1930, causaram danos incalculáveis. Hoje são ignorados, apesar de ocasionalmente aparecer alguém a tentar recuperar esses pontos de vista extremos.
Teorias recentes
Nos últimos anos, novas teorias surgiram sobre a influência dos fatores ambientais no desenvolvimento. Essas teorias ecológicas consideram as circunstâncias em que as crianças vivem, a estabilidade económica, a família - se os pais estão divorciados, ou se vivem só com um deles - a dimensão da família, etc. Os avanços da ciência, também ajudaram a investigar a importância dos estádios de desenvolvimento geneticamente determinados. Estas teorias biológicas consideram o momento em que a criança está pronta para passar à fase seguinte, como, por exemplo, para se sentar sozinha ou se pôr em pé.
Outra ideia recente é a de que as crianças se desenvolvem processando a informação fornecida pelo seu ambiente, arquivando-a e usando-a quando necessário. À medida que cresce, estes processos tornam-se mais complexos e integrados, formando a memória de longo prazo.
As formas de aprendizagem infantil são complexas, mas, ao disponibilizar um ambiente estimulante, e reconhecendo os estádios naturais do crescimento, os pais e os professores estão a incentivar o desenvolvimento do cérebro.